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Quem dá cor à VERDE?

Atualizado: 1 de abr.

Da floresta de Brasília ao Porto

Rafael Ataídes – Técnico de conservação


O Rafael não se lembra da sua vida antes de estar “conectado”, isto é, antes de andar no mato. Teria 6 ou 7 anos quando começou a acompanhar o avô em grandes caminhadas, nas quais pescava e caçava. Cedo percebeu que “não era por aqui”, que o que gostava mesmo não era de andar atrás dos animais, mas de viver em harmonia com eles e com o verde envolvente que partilhavam. Era pela floresta que queria andar.



Natural de Brasília, iniciou a sua jornada na VERDE pouco depois de ter chegado a Portugal, em 2020. Começou como voluntário e hoje é técnico de conservação, e desempenha um papel crucial no mapeamento e restauro florestal, contribuindo para a preservação dos ecossistemas portugueses.


Vive no Porto, gosta da paisagem a partir do Jardim do Morro – do equilíbrio do rio com a urbanidade portuense –, e o Gerês é o espaço natural português que mais o fascinou, ainda que, afirma, “haja muito por descobrir”. As estações bem definidas é dos fenómenos que mais estima em Portugal, permitindo-lhe gozar todos os encantos do outono.



Foi por volta dos seus 12 ou 13 anos que o Rafael percebeu que o que queria fazer na vida era abraçar árvores, por isso, decidiu formar-se em Engenharia Florestal. Com tempo, percebeu que o trabalho de um engenheiro florestal não era bem esse, mas, admite, certifica-se que esses abraços ainda cabem no seu quotidiano.

Partiu do Brasil com o desejo de conhecer mais do mundo, mas a sua chegada a Portugal coincidiu com o período da pandemia por COVID-19, e passou a trabalhar para o Brasil, remotamente, na área de conservação. Intrinsecamente interessado, o silêncio pandémico motivou-o a estudar a flora portuguesa, perceber os seus detalhes e características. Terá sido aqui que percebeu que as bolotas dos carvalhos, na verdade, não são avelãs – “eu cheguei a Portugal sentindo-me uma criança, tudo era novo.”


Embora fosse gratificante poder trabalhar na sua área, o trabalho remoto não correspondia com o seu propósito. “Precisava de campo”, confessa, e foi aqui que surgiu a VERDE. Começou por fazer voluntariado esporádico e, mais tarde, fez o de longa duração em Lousada.


O tal estudo do verde português foi fundamental para abraçar o desafio que acabou por surgir, o de assumir a posição de técnico de conservação na VERDE e fazer o inventário de árvores públicas – algo que já tinha feito no Brasil –, no município de Gondomar. Quem faz um inventário do arvoredo urbano mapeia todas as árvores públicas, mede as suas dimensões, perímetro, diâmetro e altura. A partir destes dados, é possível calcular o impacto das árvores no serviço dos ecossistemas, como a produção de oxigénio e o sequestro de carbono.




Este trabalho, típico de um engenheiro florestal, é especialmente gratificante para o Rafael quando realizado em florestas nativas – “é mais interessante, as paisagens são sempre diferentes e há tantas situações curiosas”. Todavia, os resultados não são tão visíveis para o público. Quando o inventário é feito em ambiente urbano, há sempre quem passa, para, e pergunta o que está por ali a acontecer, comportamento que, diz reparar, ser muito comum entre os portugueses.


Hoje, o Rafael avança o trabalho da VERDE na área do restauro, onde controla plantas invasoras e planta espécies nativas em propriedades sob co-gestão da organização, numa tentativa, que considera bem-sucedida, de gerir o território de forma sustentável. Para além dos resultados do seu trabalho mais prático, há também um papel relevante no que diz respeito à sensibilização dos municípios para a importância da preservação do seu património natural.


Cinco anos a viver em Portugal permitem-lhe afirmar que sente que, aqui, as pessoas mantêm uma forte ligação com o seu território. Estão conscientes da escassez de áreas nativas, mas, muitas vezes, falta-lhes o conhecimento sobre como valorizá-las. É a esse papel de consciencialização que o Rafael atribui à VERDE um destaque especial – “Consegue mesmo, e de forma acessível, dar a conhecer o trabalho que fazemos e convidar as pessoas a repensar como se relacionam com seus espaços verdes”. Mais ainda, demonstra a importância de este mundo natural fazer parte do nosso dia-a-dia e que seja – ou se torne – algo permanente nas nossas vidas.


O Rafael é, assumidamente, um “puto do mato” – e todos, independentemente da idade, deveríamos ser um pouco mais assim.

 
 
 

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