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Como é que a vegetação conta a história de um rio?


Em todos os sistemas que conhecemos, a água é o fio condutor para a vida, e as interações dentro de um ecossistema ribeirinho são um ótimo caso de estudo para perceber porquê.


Para além dos vários tributários que alimentam um rio, as plantas ripícolas que permeiam as suas orlas não só dependem do seu fluxo, como são cruciais para a manutenção de toda a bacia hidrográfica.




Para que serve a vegetação ripícola?


Na zona de transição entre os sistemas aquáticos e terrestres, existe uma comunidade de plantas muito particular, a vegetação ripícola. Estas plantas estão encarregues de serviços ecossistémicos cruciais, entre eles:

  • Estabilização do solo – sem as raízes destas plantas a reter o solo, as margens facilmente sucumbiriam à erosão[1], [2].

  • Provisão de habitat – uma vez que as zonas ribeirinhas tendem a ser mais frescas e húmidas do que os habitats circundantes[3], servem de refúgio a vários organismos, desde as aves que aí se alimentam, às rãs que vão realizar as suas posturas.

  • Corredores ecológicos – estas faixas de vegetação contínuas permitem que animais e plantas se desloquem entre habitats fragmentados[4].

  • Filtração – retêm sedimentos e nutrientes, purificando a água[5].

  • Regulação de temperatura – as árvores e arbustos que crescem nas margens de um rio podem formar uma galeria com as suas copas, levando a um ensombramento que cria condições distintas às dos espaços adjacentes[5], [6].

  • Contributos de matéria orgânica:

    • Alimento: estes contributos externos de folhagem e outros detritos formam a base da cadeia alimentar dos ecossistemas ribeirinhos[7].

    • Regulação do fluxo do rio e criação de microhabitats: as barreiras criadas pelas raízes, troncos e ramos da vegetação ribeirinha podem abrandar o fluxo do rio em determinados pontos, diversificando os nichos ecológicos que podem ser ocupados por diferentes organismos aquáticos[5], [8].





Em que difere a vegetação ripícola da vegetação circundante?


Para se instalar com sucesso nas margens de um rio, as plantas ripícolas requerem uma série de adaptações morfológicas e ecológicas que lhes permitem vingar num sistema em constante mudança. De acordo com a sua tolerância aos níveis de saturação de água do solo e capacidade de dispersão, distribuem-se ao longo de um gradiente de elevação, desde as espécies aquáticas que podem ficar totalmente submersas, às espécies terrestres que toleram curtos períodos de inundação e se encontram mais acima nas margens[9].


De modo a subsistir, várias espécies especializaram-se ainda em cronometrar os seus ciclos de vida de acordo com as variações nos níveis de água, e tiram proveito do fluxo de água para se dispersarem e colonizarem novas zonas a jusante.



Que ameaças enfrentam os ecossistemas ribeirinhos?

Um dos fatores climáticos que afeta o regime hídrico de um rio é a precipitação. Num contexto de mudanças globais, no qual países mediterrânicos sofrerão impactos marcados não só na frequência como também na intensidade da precipitação[10], a água tornar-se-á um recurso ainda mais limitado.

Embora a vegetação possa atenuar alguns destes efeitos[11], as zonas ripárias foram sendo modificadas ao longo de séculos de atividade humana[12]– desde a introdução de plantas invasoras, ao cultivo agrícola em campos adjacentes, vários fatores podem alterar a composição das comunidades ribeirinhas e perturbar a sua resiliência a mudanças de temperatura ou distúrbios no regime hídrico[13].  

Dada a importância da vegetação ripícola para o correto funcionamento do rio, mudanças na composição destas comunidades para espécies com propriedades distintas têm graves consequências funcionais[14]:

  • na diversidade de detritos que alimentam o rio, uma vez que as espécies invasoras tendem a dominar as outras espécies

  • na decomposição de matéria orgânica.

  • no fluxo da água.

  • no período em que os detritos entram na água, perturbando ciclos de vida que dependem de estar sincronizados com o pico destes recursos[15].

  • nas temperaturas, consoante a copa da nova vegetação.


A construção de barragens é outro fator de elevado risco, uma vez que interfere com o fluxo de água e fragmenta os ecossistemas ribeirinhos, impedindo, por exemplo, a migração de espécies que sobem ou descem o rio para completar o seu ciclo de vida.



Como podemos ajudar a mitigar estas ameaças?





A VERDE na gestão de ecossistemas ribeirinhos


A vegetação ripícola não reflete apenas a saúde e a história de um rio, mas também é fundamental para sua preservação. Conta a sua história através da estabilização do solo, criação de habitats, filtragem da água e regulação de temperatura, enquanto se adapta constantemente às mudanças ambientais. Ao protegermos essas plantas estamos a  garantir o futuro dos rios e da biodiversidade que dependem deles. 


Na VERDE trabalhamos de forma integrada para proteger estes ecossistemas cruciais para a saúde do planeta. Trabalhamos para preservar esses ecossistemas vitais, promovendo soluções como o Carbono Biodiverso® para assegurar que essa história continue a ser contada por muitas gerações. Realizamos ações de restauro ecológico em prados, galerias ripícolas e linhas de água, que abrigam gigantes verdes e representam áreas extremamente sensíveis, por vezes negligenciadas.


Ao gerimos assim o território, com os seus agentes, em prol do bem de todos, implementamos planos de gestão a longo prazo que potenciam a biodiversidade enquanto maximizam o sequestro e armazenamento de carbono, aumentando a resiliência das propriedades privadas de Lousada a distúrbios naturais ou humanos.


Pode contribuir para a nossa missão: 




Para ler mais sobre deste assunto:


[1] T. C. T. Hubble, B. B. Docker, and I. D. Rutherfurd, “The role of riparian trees in maintaining riverbank stability: A review of Australian experience and practice,” Ecological Engineering, vol. 36, no. 3, pp. 292–304, Mar. 2010, doi: 10.1016/j.ecoleng.2009.04.006.

[2] D. M. Richardson et al., “Riparian vegetation: degradation, alien plant invasions, and restoration prospects,” Diversity and Distributions, vol. 13, no. 1, pp. 126–139, Jan. 2007, doi: 10.1111/j.1366-9516.2006.00314.x.

[3] K. D. Brosofske, J. Chen, R. J. Naiman, and J. F. Franklin, “HARVESTING EFFECTS ON MICROCLIMATIC GRADIENTS FROM SMALL STREAMS TO UPLANDS IN WESTERN WASHINGTON,” Ecological Applications, vol. 7, no. 4, pp. 1188–1200, Nov. 1997, doi: 10.1890/1051-0761(1997)007[1188:HEOMGF]2.0.CO;2.

[4] R. J. Naiman and H. Décamps, “The Ecology of Interfaces: Riparian Zones,” Annu. Rev. Ecol. Syst., vol. 28, no. 1, pp. 621–658, Nov. 1997, doi: 10.1146/annurev.ecolsys.28.1.621.

[5] R. D. Barling and I. D. Moore, “Role of buffer strips in management of waterway pollution: A review,” Environmental Management, vol. 18, no. 4, pp. 543–558, Jul. 1994, doi: 10.1007/BF02400858.

[6] P. M. Davies, “Climate Change Implications for River Restoration in Global Biodiversity Hotspots,” Restoration Ecology, vol. 18, no. 3, pp. 261–268, Mar. 2010, doi: 10.1111/j.1526-100X.2009.00648.x.

[7] S. V. Gregory, F. J. Swanson, W. A. McKee, and K. W. Cummins, “An Ecosystem Perspective of Riparian Zones,” BioScience, vol. 41, no. 8, pp. 540–551, Sep. 1991, doi: 10.2307/1311607.

[8] S. A. Anschau, J. C. I. Neres, A. V. Carvalho, A. P. M. Guimarães, L. L. G. F. Neres, and F. B. Cerqueira, “Vegetação ripária e métodos de estudo,” Natural Resources, vol. 7, no. 1, pp. 19–32, Sep. 2017, doi: 10.6008/SPC2237-9290.2017.001.0003.


[9] C. Blom, “Physiological Ecology of Riverside Species: Adaptive Responses of Plants to Submergence,” Annals of Botany, vol. 74, no. 3, pp. 253–263, Sep. 1994, doi: 10.1006/anbo.1994.1116.


[10] J. Sheffield and E. F. Wood, “Projected changes in drought occurrence under future global warming from multi-model, multi-scenario, IPCC AR4 simulations,” Clim Dyn, vol. 31, no. 1, pp. 79–105, Jul. 2008, doi: 10.1007/s00382-007-0340-z.


[11] D. Pumo, F. Viola, and L. V. Noto, “Climate changes’ effects on vegetation water stress in Mediterranean areas,” Ecohydrology, vol. 3, no. 2, pp. 166–176, Jun. 2010, doi: 10.1002/eco.117.


[12] K. Tockner and J. A. Stanford, “Riverine flood plains: present state and future trends,” Envir. Conserv., vol. 29, no. 3, pp. 308–330, Sep. 2002, doi: 10.1017/S037689290200022X.


[13] M. A. Palmer, D. P. Lettenmaier, N. L. Poff, S. L. Postel, B. Richter, and R. Warner, “Climate Change and River Ecosystems: Protection and Adaptation Options,” Environmental Management, vol. 44, no. 6, pp. 1053–1068, Dec. 2009, doi: 10.1007/s00267-009-9329-1.


[14] V. Ferreira and MARE/ Universidade de Coimbra, “A floresta ripária,” Rev. Ciência Elem., vol. 10, no. 2, Jun. 2022, doi: 10.24927/rce2022.023.


[15] J. A. Catford, R. J. Naiman, L. E. Chambers, J. Roberts, M. Douglas, and P. Davies, “Predicting Novel Riparian Ecosystems in a Changing Climate,” Ecosystems, vol. 16, no. 3, pp. 382–400, Apr. 2013, doi: 10.1007/s10021-012-9566-7.


[16] E. H. Stanley and M. W. Doyle, “Trading off: the ecological effects of dam removal,” Frontiers in Ecology and the Environment, vol. 1, no. 1, pp. 15–22, Feb. 2003, doi: 10.1890/1540-9295(2003)001[0015:TOTEEO]2.0.CO;2.

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